Sociedade

Onde estão os conservadores quando o tema é o genocídio de cristãos?

 


O Brasil vive momentos difíceis com agitações sociais em virtude da desestabilização política e econômica que vem sofrendo e as comunidades cristãs acabam absorvendo o impacto de decisões do Legislativo e do Judiciário sobre temas que são de seu interesse.

As alterações aprovadas pelo Plenário da Câmara na votação recente do Projeto de Lei nº 4850/2016, que versa sobre as Dez Medidas de Combate à Corrupção, causou indignação em muitos cristãos que promoveram críticas contundentes aos deputados que votaram em consonância com a proposta de alteração. Além disso, recente decisão do STF firmando o entendimento de que praticar aborto nos primeiros três meses de gestação não é crime, reabriu o debate sobre a questão da criminalização de tal prática.

Entidades religiosas e grupos “pró-escolha” se manifestaram imediatamente e atendendo pedidos das bancadas cristãs e de outros parlamentares, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, afirmou que instalaria uma comissão especial objetivando rever a decisão do Supremo Tribunal Federal.

No domingo, milhares de pessoas tomaram as ruas em atendimento ao apelo de movimentos sociais que sugeriram como principais pautas, o protesto contra as mudanças feitas na Câmara em relação ao “pacote anticorrupção” e a defesa das investigações da Operação Lava Jato. Porém, ao observar o “fervor” de muitos cristãos brasileiros na utilização de instrumentos democráticos para salvar sua nação de práticas pernósticas, fico imaginando: por que a maioria esmagadora dos cristãos também não se interessa pelo objetivo de “salvar” seus irmãos que estão sendo literalmente aniquilados em países muçulmanos e na Coreia do Norte?

A mesma igreja que brada “palavras de ordem” contra a corrupção e o aborto não emite uma palavra sequer de condenação à prisão arbitrária de Asia Bibi, uma cristã católica paquistanesa que já foi condenada em duas instâncias do Judiciário à pena de enforcamento [1] pelo simples fato de “tornar  impura” a água que outros muçulmanos bebiam quando se atreveu a matar sua sede, além do que, cometeu o crime grave de não negar a fé cristã num país que o Ocidente chama de “moderado” em virtude de premissas constitucionais enganosas.

Grupos de direitos humanos elegeram Asia Bibi como símbolo internacional da luta contra a Lei da Blasfêmia e as principais autoridades religiosas cristãs continuam silentes quanto ao martírio de mais uma pobre cristã no mundo muçulmano. Seria demais acreditar que os movimentos sociais conservadores no Brasil deveriam “dar voz” à uma cristã condenada injustamente num país muçulmano, exigindo um posicionamento firme da diplomacia brasileira contra essa barbárie? Qual o problema de exigir que um país de maioria cristã denuncie e condene a pena de morte por blasfêmia em países muçulmanos?

Assistimos diariamente os grupos de esquerda praticando “desinformação” como arrimo de sua agenda de direitos humanos, e com isso, conseguiram, inclusive, causar séria crise diplomática entre Brasil e Israel após a então presidente Dilma Roussef rejeitar a nomeação do embaixador israelense Dani Dayan sob o “argumento” de que “vive em um assentamento no território ocupado palestino e foi o máximo representante de um movimento que a comunidade internacional rejeita plenamente”. [2]

É quase inacreditável que uma justificativa pífia como a utilizada pelo governo petista em atenção aos conclames dos seus movimentos sociais tenha obtido êxito sem a reação cabível dos movimentos conservadores. Como milito na área de direitos humanos, poderia enunciar diversos casos graves de violações cometidas por governos aliados da ex-presidente, mas, vou citar apenas um caso: o presidente muçulmano do Sudão, Omar al-Bashir [3], foi “milagrosamente acusado” pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra e contra a humanidade cometidos durante o conflito em Darfur, onde mais de 300 mil pessoas foram assassinadas por culpa do genocida que “passeia livremente” pela África e China apesar de ter um mandado de prisão expedido pelo TPI.

Não me recordo de movimentos conservadores brasileiros denunciando nas redes os crimes do genocida al-Bashir e concomitantemente exigindo a rejeição do embaixador sudanês como Dilma fizera com o embaixador israelense. Aliás, é notório o fato de não ser usual a preocupação com violações dos direitos humanos no mundo muçulmano por parte desses movimentos que concentram atenção nas violações em países comunistas, sem destacar a perseguição contra cristãos.

A instituição Portas Abertas divulgou em seu relatório, que 2015 foi considerado “o ano do medo” em razão do aumento assombroso da perseguição aos cristãos pelo mundo. Qual foi a reação pública da igreja? Por que mais de 99% dos evangélicos brasileiros desconhecem o nível aterrorizador da perseguição contra cristãos? Por que a divulgação da notícia de que 75% dos cristãos norte-coreanos não suportam a violência extrema e morrem nas mãos de seus algozes [4], não causa comoção e ação dos cristãos no Brasil?

Ora, estamos diante de um grande paradoxo: muitas igrejas evangélicas e católicas  mobilizam suas bancadas no Legislativo para salvar as vidas de bebês porque nas suas “agendas” o aborto deve ser combatido veementemente, porém, assistem – quando assim o fazem – os massacres contínuos de seus irmãos e as necessidades humanitárias da Igreja Perseguida sem a menor “reação” para salvar as vidas de outros inocentes silenciados pela comunidade internacional e ONU.

Na verdade, ainda não se vislumbra o interesse geral de conhecer a realidade da perseguição religiosa em países muçulmanos e comunistas, e muito menos há tentativa de engendrar mecanismos eficientes de socorro àqueles que sobrevivem aos massacres.

Por que os cristãos brasileiros vivem paralisados nas searas política e humanitária quando o tema é “perseguição religiosa no mundo muçulmano e Coreia do Norte”? Será que a “nacionalidade” das vítimas cristãs é o fator impeditivo? Ou será “a distância” o motivo de esfriamento do tão apregoado “amor cristão”?

O mais triste é perceber que até mesmo os movimentos cristãos de direita que vindicam direitos humanos e vociferam “perseguição religiosa de cristãos no Brasil”, não se dispõem a levar a questão para o debate como fazem com outros temas que agradam o público cristão.

Ao que parece, os movimentos sociais conservadores – com raríssimas exceções – estão mais preocupados em atender as demandas que ofertam maior popularidade num país que abriga uma maioria cristã que se encastelou na defesa de uma “agenda fixa de direitos humanos” e esqueceram que a emergência da ameaça islâmica bate à porta de todos os países, à exceção da Coreia do Norte. Ou seja, hoje, a maior parte dos líderes cristãos se nega a discutir a perseguição que sofrem os seus irmãos em países muçulmanos, mas, certamente acordarão num futuro próximo com o país impactado pela jihad que apavora todo Ocidente, mas não incomoda o “Brasil tolerante”.

No meio de tanta letargia quanto ao tema, a ONG Ecoando a Voz dos Mártires (EVN) [5] – instituição humanitária secular que trabalha a temática da perseguição religiosa no mundo muçulmano e Coreia do Norte –  tem participado de reuniões com o Ministério das Relações Exteriores [6] e parlamentares [7] para tentar incluir a questão da perseguição religiosa na agenda de política externa brasileira.

A instituição deu início à campanha nacional pelo reconhecimento do genocídio de cristãos e minorias no Oriente Médio, promovendo junto com a Câmara de Vereadores de São Paulo, uma sessão solene [8] para dar visibilidade ao tema, e atualmente, já conta com apoio de alguns políticos [9]. Contudo, apesar das ações da ONG EVM já serem conhecidas por alguns movimentos conservadores, não houve até o momento, apoio explícito no sentido de auxiliar as articulações no Congresso.

Do ponto de vista moral, não há diferença entre a vida de um bebê condenado à morte por decisão do Judiciário e a vida de um cristão condenado à morte pela inércia do sistema internacional conivente com a perseguição religiosa. Assim, espero que num futuro próximo o sangue inocente dos cristãos e das minorias massacradas convença os movimentos sociais no Brasil a se posicionarem contra as atrocidades sofridas pelos “desprezados das nações”.

 

Referências:

[1] O martírio silencioso de Asia Bibi – condenada a morte por beber água no mesmo poço que muçulmanos;
[2] Notícias Terra – Brasil rejeita nomeação de ex-dirigente colono como embaixador de Israel;
[3] BBC – Quem é o líder do Sudão acusado de genocídio que é procurado pela Justiça internacional;
[4] Guiame – Mais de 75% dos cristãos não sobrevivem à perseguição religiosa na Coreia do Norte;
[5] Projeto Ecoando a Voz dos Mártires;
[6] Ecoando a Voz dos Mártires – EVM se pronuncia em videoconferência no Ministério Público sobre a atuação do Brasil em matéria de Direitos Humanos;
[7] Ecoando a Voz dos Mártires – Deputado Roberto de Lucena oficiará o Ministério das Relações Exteriores para atender pedidos da Ong EVN;
[8] Câmara Municipal de São Paulo – Sessão solene discute genocídio de cristãos e minorias no Oriente Médio;
[9] Ecoando a Voz dos Mártires – Senador Magno Malta oficiará o Ministério das Relações Exteriores para responder postulações da Ong EVN

Imagem fonte: Reprodução Google

Andréa Fernandes

Graduada em Direito, Ciências Contábeis e Relações Internacionais, é Diretora-Presidente da ONG Ecoando a Voz dos Mártires, instituição humanitária que milita denunciando a perseguição religiosa e violações dos direitos humanos no mundo muçulmano junto ao Ministério das Relações Exteriores e demais órgãos públicos, bem como promove eventos objetivando fomentar conscientização humanitária para socorrer as vítimas da intolerância religiosa. É também colunista no Portal Gospel Prime. Para saber mais sobre Andréa, acesse a página Equipe no rodapé do site.

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